Poesia em Áudio - Poema em Linha Reta - Fernando Pessoa

O "Poema Em Linha Reta" de Alvaro de Campos, (um dos heterônimos de Fernando Pessoa), é um de seus poemas mais famosos. Carregado de angustia, criticas, ironias e frustrações diante de uma realidade dura e muito relacionável com os dias que vivemos. 
Fernando Pessoa foi um autor português com um trabalho muito rico, principalmente em sua obra poética que se divide entre seus diversos heterônimos, que possuem personalidades e estilos únicos.
Alvaro de Campos e sua obra de maneira geral refletem muito uma angustia de pensar, ceticismo e "saudades de uma felicidade perdida". Este poema, especificamente (poema em linha reta), é montado em seis estrofes(conjunto de versos) organizados de maneira irregular, onde o número de versos (linhas) não se mantem constante. Estes mesmo versos são chamados de Livres, pois não seguem nenhuma métrica ou esquema de rimas, são "versos brancos".

A seguir você pode ouvir a declamação do Poema em Linha Reta, na voz de Bruno Trajano.
E mais abaixo a transcrição do poema completo para a leitura.




Poema em Linha Reta - Alvaro de Campos ( Fernando Pessoa)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos tem sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico ás criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma covardia!
Não, são todos o Ideal, se os ouço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


O poema ganha vida a cada leitura, ele se inunda de significados quando aquilo que está escrito é somado as experiencias de vida de que quem lê, abrindo portas a novas significações, conceitos, e sentimentos.

Conte que poemas você já leu e mais gostou, se tem alguma sugestão de autor que gostaria de ver sendo postado aqui, e o que achou do poema em linha reta, no que ele te fez pensar.
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